quinta-feira, 13 de maio de 2010

Pequenas estórias da História


"E foi aqui que Henrique Sanches - primo direito em vigésimo quarto grau de um tipo que um dia teve a sorte de tropeçar numa bosta de burro aquando da passagem do então rei de Portugal, Afonso Henriques, pela cidade do Porto, levando a um comentário jocoso deste mesmo príncipe - disse a mãe "Ou portaste bem ou ponho-te num lar?", tendo a senhora de idade respondido "eu sou boazinha, dai-me apenas acesso a tv para eu ber o Goucha!"

E sim, história é em Portugal para a população em geral sinónimo de estória, contada pelo "Historiador". Ou seja, quando a população de Guimarães, berço oficial do nascimento de Portugal, sabe que "um historiador" afirma numa obra que Coimbra terá sido o local de nascimento de D. Afonso I, pumba cai o Carmo e a Trindade, e decide-se tentar fazer a folha, tradução para português corrente=carga de porrada, ao "Historiador", que era o coordenador da obra colectiva em questão mas discordava do artigo então publicado.
O acontecimento verídico aqui relatado data do inicio dos anos noventa, quando José Hermano Saraiva ficou como organizador de um dicionário, e a polémica estalou e o Sr. Professor Doutor quase que levou um estalo. Polémica continua depois em 1992, quando Almeida Fernandes escreve que Viseu é que devia ter sido o local de "parimento" do infante (utilizo esta palavra para demonstrar o total desdém pelo tema e a irrelevância do mesmo, já que o que importa é que ele nasceu, bairrismos/clubismo são tão interessantes como o conteúdo do meu lenço de assuar da última vez que fiz uso dele).
A verdade é que a verdade é relativa, e que o modo como nós contamos a história ou as "estórias" da história, demonstra mais sobre nós, a nossa época e a forma de pensar, do que sobre o facto histórico em sim. Objectividade cientifica é difícil, complexa e chata, mas não é impossível, já no mundo da história de divulgação ... bem, isso é outra história.

Dois exemplos de "estoria"
 
Em 1943 os ingleses começaram a usar a Base da Lajes nos Açores para a RAF, isto com autorização de Salazar, que mantinha a neutralidade portuguesa jogando com os dois blocos. Pois bem, vem a Lisboa uns senhores de fardamento preto, com o tipo de botas e medalhas que fazem barulho em corredores dos ministérios, e falaram com um diplomata português, afirmando algo do género: "Lisboa, é uma cidade com muita história, calma e muito bonita, que pena que seria se fosse bombardeada por nós" ao qual respondeu o diplomata prontamente com ar de desprezo "Ainda bem que eu vivo em Cascais!". Depois desta ameaça vã, alguém voltou para o III Reich chateado.


Durante o inverno de1944, o general alemão encarregue da ofensiva que consegue ter um grande impacto inicial na batalha das Ardenas, envia uma mensagem, a um militar americano de igual categoria, líder da frente mais afectada pelo progresso nazi, onde indicava com grande satisfação o seu progresso, a sua capacidade táctica, e a impossibilidade de conseguirem ganhar a guerra contra a máquina germânica, em suma, o habitual "canta enquanto podes, e chateio o gajo ao teu lado". Pois bem, este senhor recebeu uma resposta muito curta do general americano, que dizia apenas, entre a introdução do quartel general de beltrano, e assinatura de beltrano, a palavra NUTS. Nem queiram saber como reagiram os alemães, primeiro o habitual "Was ist NUTS?" como quem diz, deram nos uma resposta partimos do pressuposto que tenha valor por isso toca a perguntar aos mais intuídos na língua inglesa, e depois, inquietos pela sua ignorância, dirigiram-se ao mensageiro - que deve ter pensado "Este não foi um bom dia para me ter levantado da cama" - que perante a questão de um general respondeu da forma mais directa, "Quer dizer vá-se lixar, meu senhor!".
A verdade é que se questiona se o general ao lhe ser lido a mensagem alemã, teria dito a palavra NUTS ou esta foi escolhida para ocultar um palavrão. Os seus auxiliares de campo afirmam que ele pouco ou nada praguejava, o que é raro, mas parece que NUTS saiu-lhe da boca antes de sair zangado da sala onde estava e que essa era a expressão mais representativa do estado de espírito do general e dos seus homens.

Sem comentários:

Enviar um comentário