domingo, 31 de julho de 2011

nada mais para além do que um vázio de morte




Salvação, Europa de quem?
Amanha, diferente em quê?
Novos rumos, aonde e quais?
Mais sérios em quê, mas para quem vitais?

Inocência, bondade em quem?
Esperança, mais perto de que?
Ver para querer, querer sem ver

Que a verdade é quem está sempre a dever

Mais, mais, mais justiça para quem?
Maior fé, tolerância em quê
Sobretudo, sobressalta uma vida inteira a quem tudo falta
Dignidade, respeito em quê?
Mais direitos, certos para quem?
Há já tanto contra ti
Silêncio porquê, se nada lhes serve de álibi

Confidência, romance em quê
Emoção, mais sentida em quem?
Nada é grande, nada é forte, nada mais para além do que um vazio de morte

Salvação, mas futuro em quê?
Amanhã, mais livre para quem?
Há já tanto, mas não para ti
Calar mais porquê, se nada lhes serve de álibi

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Freiras e Pistolas - Que combinação explosiva!

Só há uma coisa que pode melhorar um filme em que as freiras passam mais de 50% do tempo semi-nuas, é um filme em que as freiras andam semi-nuas, armadas até aos dentes, sendo o dito visualizado num dvd dobrado em francês - C'est Magnifique!

 Esqueçam Lindsay Lohan em Machete e os filmes de Joe D´Amato, chegaram as Nude Nuns with Big Guns (bem ao menos fazem um resumo do filme numa frase, que só por acaso é o título).

2 EM 1


Videodrome - David Cronenberg [1983]

ALL HAIL THE NEW FLESH

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Morrer faz bem à economia

Então, a SIC Nóticias não indicou lá em baixo, perto do rodapé da sua tv, uma piadola sobre a morte de Amy Winehouse (tudo bem!), mas hoje ao almoço, surgiu algo em rodapé muito interessante, a procura dos álbuns da dita falecida tinham aumentado 300% no site da Fnac (fonte: lusa) ... pois, nada melhor do que a morte de um músico para o pessoal se esquecer da crise, é isso e ir à bola, desde que se possa ir à bola ver o benfas quer-se lá saber do resto, e se a mulher reclamar põe-se-lhe um olho à Belenenses (e se o Belenenses ganhar-nos põe-se-lhe dois). 

Quer dizer um álbum é poucachinho, não é quase nada quando se tem de pagar a renda ou o empréstimo ao banco elevadíssimos, não faz mossa, é tal como as cervejas e os 3 maços de tabaco diários (irony alert). Porra pá, apreendam a gerir o vosso dinheiro! O custo de um cd nem sequer dá para alimentar uma pessoa, pois não, mas juntando toda a porcaria que não faz mossa, acaba-se com o paralamas elaminado (bah, maldito sono). A música alimenta, mas só espiritualmente, e não me digam que há outras maneiras, porque ainda não vi uma única pessoa a morder cds com satisfação (só se forem os gajos do Jackass), além do mais, continua a ser um pouco ridículo que o valor comercial de um músico aumente com a morte, mas isso acaba por ser a maneira patética pós-moderna como lidamos com o game-over real (patético não é?).

Anyway, querem música juntem uns trocos e gastem-nos bem em bons cds (depois fiquem no dia em que o cd sai a ouvi-lo na loja com os empregados a mirarem-te de cima abaixo enquanto tomas notas num bloco-» sim só um freak) e concertos, ou podem ouvir um parvo da internet (não aconselho, que eles andam ai)

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Onde está ela?

 "A verdade encontra-se entre as palavras que no sãem da boca, os movimentos dos músculos faciais, as nossa acções, e dos momentos de reflexão, ou da falta deles"

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Indiana James and The Last Crusade [1989]

 
Henry Jones: I suddenly remembered my Charlemagne: "Let my armies be the rocks and the trees and the birds in the sky"

Faz hoje 67 anos que ...

... as sólidas pernas da mesa de carvalho do quartel-general nazi, na Prússia Oriental, salvaram a vida do inominável (aka o Belzebu do Terceiro Reich ... gaita já não é inominável!!!). Precisava de um carpinteiro que fizesse um trabalho desses para móveis novos cá para casa, já que sou cognominado como "quele destrabelhado comos pés pro lado, que é pior do que a bomba pro Hitler" (agora posso dizer o nome dele!).

P.S. Como estragar um filme sobre o atentado a Hitler? Só tenho de mencionar o primeiro suplicio causado ao espectador, juntar Tom Cruise a Kenneth Branagh (erro de casting perigoso e explosivo).

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Os conhecimentos de informática (ou a falta deles) na óptica do utilizador - VERSÃO JOVEM ADULTO

Nos computadores que faço eu?

- Instalo, jogo e desista-lo video-jogos.
- Uso as redes sociais, chats, messengers e afins para indicar a todos que "anexei" o que fiz, o que estou a fazer e o que farei, além de indicar "que amo aquela música!"
- Saco coisas, músicas e filmes (incluído pornografia) sem pagar.
- Apanho vírus/trojans e afins e faço a minha mulher/ mãe/ escrava levar o pc à loja e pagar o arranjo depois de declarar a minha inocência em voz alta em locais públicos aos meus entes queridos, tanto ao telemóvel como ao vivo, para que todos os transeuntes me ouvissem.
- Vejo pornografia.
- Digo a alguém nas redes sociais que vi pornografia.
- Saco pornografia.
- Escrevo um recensão critica ao Porcas e Badalhocas 23 no Facebook.
- Sou apanhado a ver pornografia e indico a minha mulher/ mãe/ escrava que tenho um problema incontrolável e que preciso de apoio psicológico para "tentar parar de extrair loção compulsivamente".
- Vou pro trabalho e uso este software para aceder ao Facebook e enganar o patrão pois aparento estar com o excell aberto.
- Vejo um episódio do House no meu pc (daqueles que eu saquei)


e acabo por sacar e ver o Porcas e Badalhocas 24.

DISCLAIMER
A descrição aqui referida não é coincidente com qualquer realidade vivênciada pelo autor do Blog, nem com alguém que ele conheça. Qualquer coincidência com a realidade é tipo ... tás a ver .. buéda triste man ...  tipo sai de casa ... a ai tantas bacanas ... vais mesmo obcecar com alpes 38 DD da gaja do filme durante os próximos dezoito meses, que dizer aquilo nem sequer é real, só tem a vantagem de ela não ter de usar soutien, porque que de resto parece plástico e faz mal às costas.

domingo, 17 de julho de 2011

Au revoir nó windsor!

 
Então a ministra mai nova do igualmente mai novo governo decidiu banir às gravatas do seu ministério (cuja designação é cansativa de dizer e chata de mencionar, por isso fica apenas para quem não sabe uma pista: hiper-mega-miscelânea sobre a qual sempre recaíram palavras de apoio nas campanhas eleitorais por parte do partido aZUL; "explicito" o suficiente para si? também acho que não), quer dizer porque não? Porque é que os seus talentosos correligionários, sempre apetrechados de uma bela indumentária ricamente confecionada em Itália, não podem abdicar da gravata para que se possa reduzir a temperatura do ar condicionado nas instalações do ministério no Terreiro do Paço e nos outros locais adjacentes dessa mega estrutura governativa? Quer dizer, é cientificamente testado que tal acto ajuda a reduzir a pegada de carbono humana, reduzindo também o cinzentismo estatal 10% e aumentado os índices de coolizidade pelos menos 14%.


Adeus gravatas cooliside nerd que o António Manuel Quintilhas Vasques Pica-Milho Frango* bem empregava para aumentar a moral e os níveis de coolizidade nos recursos humanos da Praça do Comércio.

Cêntimo a cêntimo reduzem-se os custos de electricidade do referido ministério ... não muito porque dos 10 mil funcionários do dito ministério apenas os de Lisboa é que ainda tinha de usar gravata, e se os ares condicionados forem tão bons como um bom político português, estes vão acabar por indicar no mostrador uma temperatura e gastar os mesmos quilowatts de electricidade (ou mais se se mantiver a analogia do político, que aqui é combinada com aquela coisa que ... hum, como definir? um tipo de pregão popular sobre o corrupto, um mau olhado que os eleitores projectam vocalemente nos cafés após as primeiras medidas que mexem com a sua carteira serem anunciadas pelos média) ... anyway baby steps, afinal de contas já aprenderam que os aparelhos não se desligam sozinhos em casa nem no trabalho (qual terá sido a duração dessa formação?), e se tal lhes acontecia não era a inovação tecnológica a fazer das sua, era mais a empreg... quer dizer, a mãe ou esposa que o faziam.

Em Novembro é provável que se faça um acordo com o IEFP para que os desempregados (já não agora nas estatísticas deste conceito) "contribuam para a sociedade" produzindo mantas e meias (tipo aquelas que algumas companhias davam nos voos transatlânticos), xailes e chouriços*1 (objecto cilíndrico de tecido preenchido por areia e colocado na base das portas para que o frio não penetre) para que a temperatura do ar condicionado não seja aumentada e se poupe ainda mais energia.


Babe sê também uma sex bomb de xaile no teu trabalho.


Já que se aprendeu a publicitar actos pouco significantes para preencher o já deprimente e aborrecido telejornal, porque não contratar uma mega vedeta das manhãs, ou quiça das tardes, dos 3º e 4º canais, para ser o spokesperson do governo, para tornar a coisa mais apelativa, do género uma tempestade de areia (já que é isso que nós querem arremessar para a vista) mas com confettis fuschia, laranjas, verdes, amarelos, azuis bebé e rosas (é sim diferente de fucchia, google it!!!).

* Não conheço ninguém com esse nome e espero que se exista  não trabalhe no referido ministério ... sendo que se tal ocorrer não me processe.
*1 A SÉRIO, ESPERO NÃO ESTAR A DAR IDEIAS A ALGUÉM QUE TENHA PODER DE INFLUENCIAR DECISÕES, OU DE AS TOMAR (MENOS IMPORTANTE!)

segunda-feira, 11 de julho de 2011

The boast of heraldry, the pomp of pow'r/ And all that beauty, all that wealth e'er gave,/ Awaits alike th'inevitable hour./ The paths of glory lead but to the grave.

Perseu - O Mito e o filme Clash of the Titans (1981) - Parte II

Após a travessia do rio Styx, na barca de um esqueleto com um papel semelhante a Caronte[1], o herói, e três soldados de Joppa, chegam ao templo no qual habita Medusa[2]. Antes de entrarem no templo são atacados por um cão de guarda de duas cabeças, Dioskilos[3], que mata um dos soldados. Dentro e fora do templo o espectador é confrontado com as estátuas de pedra de homens que ousaram olhar para Medusa. No confronto do herói com este monstro[4] morrem os dois restantes soldados e Perseu, recordando-se das palavras que lhe tinham sido ditas aquando do recebimento das suas armas de origem divina, usa o escudo como espelho para não olhar para Medusa, e corta-lhe a cabeça aquando da aproximação desta[5]. Antes de chegar regressar Joppa, Perseu e os seus companheiros são atacados por Calibos, que ao aperceber-se do conteúdo da sacola do herói a perfura, deixando cair o sangue no chão que origina três escorpiões[6] que atacam o herói, resultando assim na morte de alguns amigos do herói e, também, nesta luta da morte de Calibos.

Perseu recupera Pégaso, graças à intervenção do mocho que o vai resgatar ao covil de Calibos, e desloca-se para salvar Andrômeda. À beira-mar estão todos a observar a jovem princesa agrilhoada a uma pedra, aguardando a chegada do monstro marinho. Quando este chega aparece Perseu no seu cavalo alado preparado para o enfrentar, mas ambos caem no mar. Nadando para a costa, Perseu exibe a cabeça da Górgona, que lhe tinha sido trazida pelo mocho, ao monstro, transformando-o assim em pedra[7].
Com o fim da ameaça o espectador observa o mundo dos deuses, o Olimpo[8], onde se reflecte sobre a vitória do herói com Zeus a decidir imortalizar Perseu, Andrômeda, Pégaso e Cassiopeia com a criação de constelações no céu[9].

Para além do que foi escrito, ainda há um certo número de aspectos do filme que não correspondem ao mito, como: a não referência ao oráculo que informou Acrísio da sua morte às mãos do seu neto, o que o levou a prender a sua filha Dánae numa câmara de bronze para que ela não tivesse filhos (Apolodoro, Biblioteca, Livro II, 4.1). Como Acrisio é morto por Zeus não o vemos no filme a ser morto involuntariamente com um disco por Perseu (Apolodoro, Biblioteca, Livro II, 4.4). Também nada se diz sobre a concepção de Perseu, da artimanha de Zeus ao se transformar em chuva de ouro e passar por uma fenda da câmara (Apolodoro, Biblioteca, Livro II, 4.1; Ovídio, Metamorfoses, Livro IV, 663-705; Píndaro, Ode Pítica, capitulo XII, 17-18). Não há apoio por parte de Atena e de Hermes ao herói, como no mito (Apolodoro, Biblioteca, Livro II, 4.1), o que explica a ausência de sacrifícios em honra de Atena, Hermes e Zeus depois da derrota do monstro marinho (Ovídio, Metamorfoses, Livro IV, 706-752). Não se refere que a cabeça de Medusa foi oferecida a Atena, após a derrota do monstro marinho, e que esta colocou-a no seu escudo, e que antes deste acto Perseu a usou para derrotar rivais na Etiópia e em Sérifo (Píndaro, Ode Pítica, capitulo XII, 17-18; Higino, Fábulas, capitulo LXIV- Andrômeda; Apolodoro, Biblioteca, Livro II, 4.3), pelo contrário, visualiza-se Perseu no filme a arremessar a cabeça para o mar.
Para finalizar esta listagem, tem de se escrever sobre o amor entre Perseu e Andrômeda, que no filme ocorre antes do sacrifício da princesa ao Kraken, com o fim do encantamento, e no mito o primeiro contacto e o despertar da paixão entre ambos é resultado de um acaso da viagem de Perseu de volta a Sérifo.

Para terminar esta análise, do mito e do filme em questão, é necessário ter em conta que os episódios da morte de Medusa e da salvação de Andrômeda são independentes no mito, um não é condição necessária do outro, como no filme, onde são condensados. Além disso, o título do filme fala-nos de Titãs, talvez com o propósito de incentivar o consumo do filme, justificando o uso do termo Titãs como referindo-se a Medusa e ao Kraken[10].


[1] Era o barqueiro que no mundo inferior transportava os recém-mortos através do rio Aqueronte. No filme a referida personagem tem uma aparência semelhante à popular figura da morte no mundo cristão, usando um roube negro que não oculta apenas as mãos e a cara.
[2] Na mitologia ela habita na zona da Líbia (Ovídio, Metamorfoses, Livro IV, 706-752).
[3] Este animal parece ser inspirado por uma criatura conhecida do grande público no ciclo de Herácles, o cão dos infernos Cérbero, que guardava as portas do reino subterrâneo dos mortos.
[4] Esta Medusa é em aparência quase que exclusivamente um réptil, já que o seu cabelo tem serpentes e o seu corpo aparenta ser de uma cobra, fazendo barulho com a sua cauda, como uma cascavel.
[5] No mito, o herói corta a cabeça de Medusa enquanto esta dorme, com Atena a guiar-lhe a mão (Apolodoro, Biblioteca, Livro II, 4.2), surgindo do interior dela Pégaso e Crisaor (Ovídio, Metamorfoses, Livro IV, 706-752; Apolodoro, Biblioteca, Livro II, 4.2), que acordam as suas tias, que vão partir em perseguição de Perseu sem o conseguirem apanhar, isto graças ao seu elmo (Apolodoro, Biblioteca, Livro II, 4.2-4.3).
[6] Mais uma vez o mito original foi adaptado, Ovídio (Metamorfoses, Livro IV, 604-662), fala de algum sangue de Medusa que caiu no deserto, aquando da passagem de Perseu, criando serpentes mortais.
[7] No mito em questão, o monstro marinho é derrotado pelo herói através da espada deste e pelo facto do monstro atacar a sombra de Perseu, que se encontrava no ar (Ovídio, Metamorfoses, Livro IV, 604-662). A cabeça da Górgona não é utilizada no mito, é, alias, pousada em algas, em terra, transformando-as em corais (Ovídio, Metamorfoses, Livro IV, 706-752).
[8] Em todo o filme vai-se saltando do mundo dos mortais para o mundo dos deuses.
[9] Curioso observar que Heródoto (Histórias, Livro VII, 61) justifica o nome dos persas com a ligação que estes teriam na origem com o filho de Perseu e Andrômeda, Perses.
[10] As bruxas no filme dizem mesmo “Um titã contra um Titã”.

domingo, 10 de julho de 2011

Precious Bodily Fluids

Perseu - O Mito e o filme Clash of the Titans (1981) - Parte I

Em primeiro lugar o filme em questão é de 1980, e na sua produção recorreu-se a uma equipa que já tinham trabalhado em conjunto, num filme anterior, Jason and The Argonauts, de 1963, como são os casos do argumentista, do produtor e do criador de efeitos especiais. Tendo este filme como alvo um público americano bastante vasto, o seu argumento foi escrito para não conter momentos demasiado violentos, como no mito de Perseu que lhe serve de base, valorizando-se, assim, a carga mágica da história[1]. Deste modo, a adulteração face ao mito que o inspira é enorme, o que empobrece a carga mítica e poética do filme[2]. Outro aspecto que salienta o carácter adaptativo do filme às massas, é a presença de aspectos da mentalidade contemporânea, casos do estereótipo do herói americano, que resgata donzela[3], o romance amoroso entre Perseu e Andrômeda, o carácter paternalista do chefe dos deuses do Olimpo, a segregação social, aplicada à personagem Calibos, e o recurso a um mocho mecânico, que ajuda o herói e que parece ser resultado da influência do então recente Star Wars[4].

Segue-se agora a descrição da acção do referido filme, comparando-o com o mito de Perseu. No início desta película, o espectador é confrontado com a realização de um acto cruel por Acrísio, rei de Argos, o do envio da sua filha filha, Dánae, e do seu neto, ainda bebé, Perseu[5], para o mar num receptáculo de madeira semelhante a um caixão[6]. Durante os créditos iniciais é visível na tela uma ave, talvez uma gaivota, que observou o referido acto e que afinal revela ser o deus dos mares, Posídon, que informa Zeus do sucedido. Nesta sequência, decorrida no Olimpo, o espectador é apresentado aos deuses, Atena, Afrodite, Hera, Posídon, Tétis[7] e Zeus, sendo que este último encontra-se furioso com Acrísio, por este ter posto em causa a vida do seu filho[8], e resolve mandar destruir a cidade de Argos[9] com uma criatura marinha[10]. Além disso, neste encontro no Olimpo, Zeus decidiu que Dánae e o seu filho iriam ter sãos e salvos à ilha de Sérifo, onde o jovem Perseu cresce e torna-se um homem hábil e belo. A sua mãe desaparece nesta produção filmica logo antes do herói alcançar a idade adulta, o que é uma substancial diferença do mito, já que ela é objecto da cobiça do rei local, Polidectes[11], que utiliza o herói para indagar a cabeça de uma das três Górgonas, a de Medusa[12], a única mortal[13], com o pretexto de esta ser a prenda para o seu casamento com Hippodamia[14]. O objectivo deste tirano era unicamente o de afastar o jovem Perseu de sua mãe de modo a que este não impedisse o casamento entre ambos[15].
De volta à acção filmica, a passagem do jovem Perseu para a cidade de Joppa[16] faz-se através da interferência de Tétis[17], que age enraivecida com o ignorar do seu apelo ao perdão do seu filho, Calibos, a quem Zeus tinha entregado o cuidado das crateras da Lua. Como Calibos caçou e matou tudo o que nelas vivia, incluindo os cavalos alados de Zeus, dos quais apenas restou o Pégaso[18], foi castigado por Zeus que o transformou numa figura monstruosa, que é obrigada a viver num pântano. Esta personagem, que corresponde ao rival de Perseu, é uma criação do argumentista, e resulta da importação de um tema já usado na Ilíada, o da mãe do herói, como é o caso de Tétis, mãe de Aquiles.

Aquando da sua chegada a este teatro Perseu estabelece um laço de amizade com um actor, Ammon[19], e recebe das deusas do Olimpo, a mando se seu pai, um escudo, de Hera, um elmo, de Atena, e uma espada, de Afrodite[20]. Esta decisão de Zeus permitiu auxiliar o seu filho nas tarefas que se seguem, e, ao mesmo tempo, é uma resposta à interferência de Tétis. Perseu segue o seu destino e vai à cidade de Joppa, onde é informado da maldição que a cidade sofre e de que todos os pretendentes à princesa Andrômeda, não tendo tido sucesso na resolução do charada necessário para com ela poderem casar, são queimados[21].

Aguçado por este desafio, o jovem herói aventura-se no quarto da princesa, recorrendo ao seu elmo que o tornava invisível, e observa-a constatando que esta passa grande parte do tempo adormecida e que a certa altura da noite é visitada por um abutre gigante, que leva consigo uma gaiola na qual o espírito da princesa é levada. O que ocorre a Andrômeda é consequência do encantamento de Tétis, resultante da recusa desta de levar avante o seu casamento com o horrendo Calibos. Decidido a seguir o abutre da noite anterior Perseu vai ter ao local no qual Pégaso vai beber no fim do dia capturando-o e domando-o[22]. Com o cavalo alado, Perseu segue o abutre e chega aos pântanos desoladores, e cheios de corcodilos, nos quais vive Calibos e a sua corte. Neste local observa a princesa, graças ao seu elmo, apercebendo-se que esta é perturbada pelo feitiço e ouve a advinha que Calibos lhe enuncia para o próximo pretendente. Consequentemente, ao tentar encontrar Pégaso, Perseu é atacado pelo próprio Calibos, sendo que no confronto este último perde a mão esquerda e o herói perde o elmo.
Na sessão seguinte de apresentação de candidatos à princesa, Perseu apresenta-se e desvenda o enigma de Calibos, ganhado assim a mão em casamento de Andrômeda. Em consequência do pedido de vingança de Calibos e da imprudência de Cassiopeia, rainha da cidade, que afirma a superioridade da beleza da sua filha, Andrômeda, à de Tétis, esta deusa promete a destruição de Joppa em trinta dias caso a princesa não seja sacrificada ao Kraken[23].

Perante este cenário, Perseu decide recorrer às três bruxas[24], apreciadoras de carne humana, para conhecer um modo de destruir o monstro. Entretanto, Pégaso é capturado por Calibos e pelos seus homens, e Zeus manda Atena enviar o seu mocho, Bubo, para auxiliar Perseu, sendo enviado um mocho mecânico, feito por Hefesto, que guia Perseu até a um templo em ruínas onde se encontram as três bruxas, que partilhando um só olho entre elas são facilmente obrigadas a colaborar com Perseu, pois este, através do mocho, consegue-lhes roubar-lhes o olho. Sabendo então que a única coisa que pode vencer o Kraken é a cabeça de Medusa[25], Perseu dirige-se para a ilha dos mortos, tendo já sido avisado da capacidade da Górgona de transformar todos que a olham em pedra[26] e de possuir sangue venenoso e mortal.



[1] Cf. Fernando Lillo Redonet, El Cine de Tema Griego y su Aplicación Didáctica¸ Madrid, Ed. Clásicas,  2001, p.81.
[2] Cf. idem, ibidem, p.81.
[3] Cf. idem, ibidem, p.84.
[4] Cf. idem, ibidem, p.82.
[5] Já mesmo a Ilíada (capitulo XIV, verso 319) refere a ligação familiar de Perseu com Acrísio.
[6] Este acto é reprodução do mito de Perseru (Higino, Fábulas, capitulo LXII - Dánae).
[7] Na mitologia grega Tétis é representada como um ninfa do mar, a mais jovem das Titânides, e não como um deusa olímpica.
[8] No filme, Acrísio, antes de condenar a sua filha e neto à turbulência do mar, afirma que o filho dela é de Zeus, facto este que no mito Acrísio nunca reconhece (Ovídio, Metamorfoses, Livro IV, 604-662), acreditando que esta criança é fruto dos amores de sua filha com o seu rival e irmão, Preto (Apolodoro, Biblioteca, Livro II, 4.1).
[9] A apresentação do extermínio de Argos é remanescente das ideias que o espectador normalmente relaciona com a aniquilação da Atlântida, com a sublevação das águas sobre a cidade. Curiosamente Argos não era uma cidade costeira como aqui é representada.
[10] Esta criatura no filme tem o nome de Kraken, que é um termo importado da mitologia nórdica e que se refere a uma lula ou polvo gigante, descrição esta que não corresponde à do monstro do filme. No mito em análise, aquando do sacrifício de Andrômeda aparece um monstro marinho, mas a este não é lhe dado qualquer nome.
[11] Este é irmão de outra personagem que não é referido no filme, Díctis, que recolheu o Dánae e o seu filho, e criou a criança (Apolodoro, Biblioteca, Livro II, 4.1).
[12] Segundo o mito, Medusa é filha de Forcis e Ceto (Hesíodo, Teogonia, 270-275), tendo duas das Gorgonas como irmãs, Esteno e Euríale (Hesíodo, Teogonia, 275-280). É descrita como se tendo serpentes invés de cabelo, possuindo grandes presas, semelhantes às do javali, mãos de bronze, asas de ouro, olhos cintilantes e um olhar penetrante que transformava em pedra quem a visse (Apolodoro, Biblioteca, Livro II, 4.2). A imagem monstruosa desta figura teria sido resultado de um castigo da deusa Atena, que fora causado pela ousadia de Medusa ao rivalizar com a beleza desta, ou pelo desrespeito à deusa no seu templo, através da prática sexual com Posídon (Ovídio, Metamorfoses, Livro IV, 706-752).
[13] Cf. Hesíodo, Teogonia, 275-280; Apolodoro, Biblioteca, Livro II, 4.2.
[14] Cf. Apolodoro, Biblioteca, Livro II, 4.2.
[15] Cf. Apolodoro, Biblioteca, Livro II, 4.2. Higino em Fábulas (capitulo LXII – Dánae) fala de um outra versão na qual a mãe de Perseu casa com o rei de Sérifo sem que houvesse impedimento por parte do filho.
[16] Aqui representada como resultado de uma miscelânea entre cidades do mundo mesopotâmico e das mil e uma noites. No mito de Perseu a acção passa-se na Etiópia (Apolodoro, Biblioteca, Livro II, 4.2-4.3).
[17] Esta intervenção é apresentada ao espectador via o recurso a uma figura de barro, que representa o herói, a ser colocada no meio de um modelo de um teatro. No filme esta é a segunda vez que a intromissão dos deuses é apresentada deste modo, sendo a primeira o momento no qual Zeus esmaga a figura de Acrísius, durante a destruição de Argos, provocando a sua morte.
[18] Na verdade Zeus nunca teve uma manada de cavalos alados.
[19] Será que esta personagem é a mesma que no mito prevê para o rei Cefeu que o sacrifício de Andromeda possa salvar a cidade deste rei da destruição (Apolodoro, Biblioteca, Livro II, 4.3), ocupando no filme uma função diferente.
[20] Cf. Fernando Lillo Redonet, ob. cit., p.82.
[21] O conhecimento do que atormenta a donzela, para com ela poder casar, é um topos bastante comum.
[22] Esta cena não é baseada no mito de Perseu, mas sim de Belerofonte, que consegue domar Pégaso. Além do mais, no mito de Perseu Pégaso nasce do corpo de Medusa depois desta ter sido decapitada pelo herói (Hesíodo, Teogonia, 280), logo a sua utilização no filme tem está relacionada com o enaltecer do maravilhoso.
[23] No mito Cassiopeia considera-se a ela (Apolodoro, Biblioteca, Livro II, 4.3) ou a filha (Higino, Fábulas, cápitulo LXIV- Andrômeda) mais bela que as nereides, o que é recebido por estas com desagrado exigindo o sacrifício de Andrômeda para salvar a cidade ou afirmado apenas a destruição da cidade, por acção de Posídon.
[24] Estas são nada mais do que as três Greias, da mitologia grega, que no mito indicam a Perseu aonde ele se tem de deslocar para encontrar as ninfas (Apolodoro, Biblioteca, Livro II, 4.2), que tinham em sua posse os elementos necessários para vencer a Medusa (Apolodoro, Biblioteca, Livro II, 4.2). Estas três feiticeiras tem uma roupagem mais Shakespeariana de Macbeth do que mitológica, sendo que do mito partilham o facto de terem só um olho para as três, e que Perseu se apodera desta para obter as informações que deseja.
[25] No filme a aparência reptiliana da Górgona resulta do castigo de Afrodite, pela união sexual de Medusa com Posídon no templo da deusa.
[26] Tal como no mito de Perseu (Apolodoro, Biblioteca, Livro II, 4.2).

"Violence is the first refuge of the incompetent"

You have a natural tendency
To squeeze off a shot
You're good fun at parties
You wear the right masks
You're old but you still
Like a laugh in the locker room
You can't abide change
You're at home on the range
You opened your suitcase
Behind the old workings
To show off the magnum
You deafened the canyon
A comfort a friend
Only upstaged in the end
By the Uzi machine gun
Does the recoil remind you
Remind you of sex
Old man what the hell you gonna kill next
Old timer who you gonna kill next
I looked over Jordan and what did I see
Saw a U.S. Marine in a pile of debris
I swam in your pools
And lay under your palm trees
I looked in the eyes of the Indian
Who lay on the Federal Building steps
And through the range finder over the hill
I saw the front line boys popping their pills
Sick of the mess they find
On their desert stage
And the bravery of being out of range
Yeah the question is vexed
Old man what the hell you gonna kill next
Old timer who you gonna kill next
Hey bartender over here
Two more shots
And two more beers
Sir turn up the TV sound
The war has started on the ground
Just love those laser guided bombs
They're really great
For righting wrongs
You hit the target
And win the game
From bars 3,000 miles away
3,000 miles away
We play the game
With the bravery of being out of range
We zap and maim
With the bravery of being out of range
We strafe the train
With the bravery of being out of range
We gain terrain
With the bravery of being out of range
With the bravery of being out of range
We play the game
With the bravery of being out of range

Miau

... até o gato fica melhor de gravata do que eu!

You can rest when you´re dead


quarta-feira, 6 de julho de 2011

Crónica de Almançor, Sultão de Marrocos (1578-1603) Parte III


4 - Os Objectivos da Obra

A escritura da fonte em análise ocorreu no período anterior à restauração, para um publico reduzido, os conspirados do 1º de Dezembro. Tendo isto em mente compreende-se porque que o objectivo da obra é ser um relatório detalhado de acontecimentos políticos do Magreb, acompanhado por uma muito rica, dentro do possível, descrição da geografia local, dando informações sobre este território, sobre as suas tensões internas, sobre o seu exército e capacidade bélica a outros conspiradores, de modo a que se pudesse ter noção do uso proveitoso de Marrocos como aliado na eventual luta contra os castelhanos pela independência[1].

É também relevante salientar, que apesar de não ser intencionalmente uma obra apologética e de louvor, António de Saldanha ao relatar os factos políticos faz com que a atenção se centre no Almançor. Mesmo não sendo um subordinado deste monarca e tendo uma agenda muito própria, chega na descrição deste a empregar muitas das características da representação cronistica dos reis do período[2], facto este visível na sequência dos acontecimentos, de forma cronológica, e na descrição do Almançor. Apesar de o autor não partilhar de um apreço especial pelo Sultão como no caso do rei do seu país, consegue ser muitas vezes apologético e apreciativo do valor deste[3].

5 - A Função da História para o Autor

Das várias tipologias de função de História referidas na introdução a que se encaixa melhor talvez seja a história lição, a busca da perpetuação do exemplo positivo, do exemplo que se deve seguir, que deve inspirar outros a fazer o mesmo e melhor. Esta concepção encontra-se presente longo na introdução, aquando o autor reflecte sobre os “sucessos” “digno de memória pera exemplo”[4] não serem transmitidos pelos autores dessas façanhas devido ao infortúnio do naufrágio.

O factor religioso está quase sempre ausente da crónica, desde referências à entidade divina até comentários acerca da religião dos outros, neste caso o Islão[5], por isso, e pelas características da obra[6], não se tem dados suficientes para reflectir acerca da presença de aspectos providencialistas e transcendentais na obra. De qualquer modo, apesar das poucas referências a Deus, é inegável a aparente fé e crença religiosa do autor[7].
A falta de dados precisos leva-nos a salientar que o texto é, em termo práticos, uma simples narração de factos, sendo uma possibilidade a considerar esta também uma função da História para António de Saldanha.

Conclusão

António Saldanha deixou-nos uma fonte importantíssima para o estudo do período da Restauração, de uma perspectiva privilegiada da política internacional do período vista do ponto de vista marroquino, que se encontrava no centro do fervilhar da acção no fim do século XVI e inícios do século XVII. A dificuldade de extrair informação sobre o trabalho historiográfico do autor está intrinsecamente ligada ao propósito do seu trabalho afectar as considerações historiográficas do mesmo, produzindo um relato de sequência cronológica de momentos chave políticos do reinado do Almançor, que não dão espaço a considerações de outros níveis, sendo também difícil reflectir sobre o sentido mais profundo de várias frases e ideias sem entrar no mundo da especulação.


[1] Cf. António Dias Farinha, “Introdução”, ob.cit., pp.XV-XVII.
[2] Refiro-me: à ideia de monarca valoroso e heróico chefe militar, sempre associado à condução e ao seu desempenho de forma justa e honrosa; à necessidade de justificar a sua linhagem, buscando ao passado parentes mais importantes que outros em termos sociais de modo a poderem reclamar e justificar o seu poder; à aplicação da justiça, na qual o rei assume uma posição paternal, defendendo e ajudando os mais fracos, punindo a rebeldia e recompensando os súbditos obedientes e fiéis; e ao bom governo associado a prudência e a piedade.
[3] Só em um momento é que o autor formula um comentário depreciativo ao Sultão, quando este, no capitulo LXIX página 201, condena à morte doze jovens inocentes cristãos como resposta à morte de um dos seus filho por Pêro Galego. O acto é descrito como um “bárbaro castigo pêra quem não tinha nenhûa culpa”.
[4] Cf. António de Saldanha, ob.cit., p.3.
[5] Cf. idem, ibidem, p.XXIX.
[6] Vide. Infra, 4 - Os Objectivos da Obra, p.8.
[7] Casos das seguintes expressões: “já que Deus ordenou que vivesse em tempo de tantos apertos desta monarquia”, “particular mercê de Deus será proporcionada defensão”. Ambas as expressões foram retiradas do capítulo de introdução do autor na página 3.