Como a minha tendência é de consumir LPs já com uma certa idade (dez anos para cima), uns mais avinagrados, outros mais carregados de um doce aroma à Porto, fiquei a reflectir sobre o interesse em escrever para um blogue todo moderno como este (reparem que para o design, concepção e realização da ideia eu apenas contribui com um inaudível “Sim” acompanhado pelo seu primo afastado, e epiléptico, que desilude qualquer um com a sua incapacidade discursiva “pois...é uma boa ideia”), e depois cheguei lá na minha mente “Há cacas ai, algumas ai Jesus, outras maiores malhas que eu sei lá o quê (sempre importante salientar o sei lá o quê), que merecem ser relembradas ou abordadas de novo com outros ouvidos e olhos (pois meus amigos é que aqui o Bean já comprou Lps e cds só pela capa, quando se tem dinheiro funciona, caso contrário apanha-se cada desilusão às vezes…eu sei que é estúpido mas eu gosto de experimentar coisas às cegas). E, prontos, complemento o avant-garde do outro gaijo com o meu atraso temporal (veja-se que só este ano é que comprei o último álbum da Fiona Apple, I am a shameful naughty boy).
O.K., depois de uma intro, que cheira mal, vem o primeiro prato, o ano é 1980, a banda são os “fabulosos” Dead Kennedys, o álbum é o seu primeiro, Fresh Fruit for Rotting Vegetables.
E a história começa assim, mal gravado, sem condições monetárias e materiais, gravado com poucos overdubs vocais, quase ao vivo, uma tanga de gravação para quem tá, como eu, mal habituado a ouvir rock-art, rock progressivo (ODEIO LABELS!!! Um dia vou explicar porque é que nunca houve algo chamado Grunge, mas deixo isso no ar por agora, sem receio de levar um bélinha de algum fã mais obcecado de Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden, Melvins ou Dinossaur Jr.), algo com uma qualidade sonora e detalhe auditivo que não pode ser entregue ao consumir deste modo “afiambrado”. É esta barata esmagada mas que ainda corre que tem piada, a verdade é que o bicho abre as portas para uma atitude de critica política no punk dos EUA diferente, quase que nasce aqui o hardcore (entenda-se punk hardcore) americano (acho que a mãe deste “movimento” são os Reagen Youth). Já agora, vejam a linda capa foto tirada a carros da polícia a arder, resultado de um motim que não vale aqui a pena explicar. É forte a imagem, carregada de indignação que corrói toda a obra (e a contra capa não desdenha, seja a versão original da banda de lounge com olhar patético ou a foto das velhinhas). Pois, há indignação, mas com humor, não é só um sujeito que fala (sim Biafra não canta, fala alto) X verdades sobre o “sistema” (coisa maravilhosa que prejudicava o Sporting Clube Portugal a alguns anos atrás e que nenhuma aventesma televisiva ainda explicou), é mais do que isso, ele tem piada, põe o dedo na ferida e não a calca porque é fixe faze-lo, há quase que uma necessidade gritante de infligir dor aos que critica ou aos nossos ouvidos, ainda não sei bem!. A dor não acaba ai, ele não se limita a abordar um assunto de forma sintética, ele espeta lá o dedo e troce-o, além do mais a qualidade textual das letras varia entre o “mais conteúdo do que acho que teria quando primeiro ouvi” e “in-your-face”. Esta dualidade é prática, não aliana o ouvinte e não esgota os temas nas primeiras audições, mesmo as frase mais cortantes, acompanhadas com uns “catchy rifs” de East Bay Ray, e uma competente secção rítmica de Klaus Flouride e do pouco conhecido Ted (menos ainda será o 6025), ficam a trabalha no estômago não seguindo para o recto como a maioria de trampa musical servida às ovelhinhas todas que dão discos de ouro no mercado americano a Madonnas e afins pimba/ pop- rock (Ai, como odeio Labels, mas dá jeito!) que ela patrocina.
Passando agora ao coiso e tal que todos apreciam, os Highlights Musicais. Começamos pelo nome dos temas, temos o Kill The Poor, Let's Lynch the Landlord, I Kill Children, que não sei quanto a “vocesses”, mas a mim atrai-me títulos audazes, depois há o Chemical Warfare, California Über Alles e Holiday in Cambodia, que são também elucidativos do que falam (política americana interna e externa), e uma versão de fazer saltar o chapéu de qualquer milionário texano que passa demasiado tempo em Vegas e fica liso que nem um carapau, refiro-me ao belo Viva Las Vegas.
Então, notas giras, Kill the Poor, primeiro tema do álbum, foi interpretado, juntamente com o California, como um tema referência dos movimentos de extrema-direita californianos (pois, é que muita gente não compreende ironia e sarcasmo, e ambos os temas são perus recheados disso, criticando-se o abuso de poder e as politicas republicanas). Let's Lynch the Landlord e I Kill Children, são directos à questão, o primeiro fala de senhorios que exigem demasiado dinheiro para as condições que proporcionam ao inquilino e como tal mereciam levar um balázio no cu (é mais lincha-lo mas “nevermind”) e o segundo abre com uma linda frase “God Told Me to Skin You Alive”, sendo que é curiosamente considerado pelo seu autor, Jello Biafra, como o seu tema mais fraco, e conta da perspectiva de um assassino de crianças os seus actos (eu gosto é da primeira frase!). Deutschland Über Alles, é assim que começa o hino alemão, verso que aliás não é cantado, “jamais, ainda ficam a pensar que somos nazis com tendências expansionistas”. Com esta ideia Biafra pegou no verso pôs California e chamou a atenção para algumas práticas menos democráticas que a serem implementadas abririam, e abriram, portas para todo o tipo de abusos (“Quem é que falou do Socrátes!”). Holiday in Cambodia não vale a pena descrever, é muito bom, é mesmo para ouvir, só de referir que no refrão diz-se de forma enérgica POL POT.
É calão, não quer ler, então comece por aqui a leitura
Em termos gerais, e em jeito de final, o álbum é bom, consistente, enérgico, audaz para 1980 (talvez ainda hoje o será em alguns aspectos) não envelheceu mal (criticas politicas do inicio dos anos oitenta exigem ter alguns conhecimentos do local e do período), tem humor e talvez seja o melhor álbum dos Dead Kennedys, apesar das referidas falhas de produção do mesmo. Ou seja, sai da cabeça do BEAN com um 4/5.
Nos próximos episódios critica a Aerial de Kate Bush, Ummagumma dos Pink Floyd e uma pequena história sobre esta seguinte imagem.
Té lá VIVA AO BACALHAU
Sem comentários:
Enviar um comentário