Deixe-mos em paz criaturas criadas por Jim Henson, com catchphrases irritantes e passe-mos para os Floyd.
Então a muito tempo atrás, num país que deu ao mundo os Beatles, a Lady Margaret Thatcher e a possibilidade de considerar peixe frito com batatas fritas uma refeição, existiu um projecto musical de nome Pink Floyd.
Iniciados na segunda metade da década de sessenta, os Floyd foram considerados desde um inicio como estando ligados ao Rock Psicadélico, mas também parece que todos os músicos com menos de trinta anos da Ilha (que só é Europa quando tá a necessitada) estavam a usar a droga da moda, LSD. Anyway, presos entre o psicadelismo inicial e saltado depois para o Arte Rock e Rock Progressivo, os Floyd encontravam-se em 1969 numa enrascada.
Depois de se estrearem brilhantemente nos LPs com o brilhante The Piper at the Gates of Dawn, em 1967, o génio dinamizador da banda, guitarrista e vocalista, Syd Barrett, autor de quase todos os temas, excepto um, desse mesmo álbum, teve aquilo a que se pode considerar um mental breakdown, causado por drogas, alguma condição mental sobre a qual sempre se especulou, tudo isso mais o seu passado difícil (onde a perda prematura da mãe terá tido um forte peso) … sei lá, é triste mas aconteceu.
Quem conhece, quem ouviu a discografia deste grupo, apercebesse logo por mais distraído que seja que alguma coisa tá mal. O segundo álbum, de 1968 A Saucerful of Secrets só conta com a presença e autoria por parte de Barrett num tema, Bike, deixando um pronuncio do fim da carreira deste génio, que será várias vezes referido, homenageado e usado como fonte de inspiração em composições marcantes da carreira de Waters, Gilmour, Wright e Mason, respectivamente, baixista/vocalista, guitarrista/vocalista, teclista e baterista.
Partido sem um líder, sem um ponto orientador, cheios ideias, de influências variadíssimas, tentando-se encontrar nesta encruzilhada, surge Ummagumma, um eufemismo de acto sexual, um primo distante do meu woka woka woka, foneticamente parecido com o “Wocka! Wocka! Wocka!” do urso dos Marretas e com o som emanado do Pacman. E sim foi por isso que escolhi este álbum, isso e o facto de ser weird.
É calão, não quer ler, salte para o fim
Primeiro que tudo, o álbum é na verdade dois álbuns, um ao vivo e o segundo de estúdio. O primeiro conta apenas com quatro temas, os habituais das performances ao vivo, já o segundo é um exemplo de experimentalismo da época.
Abre-se as hostilidades no concerto com Astronomy Domine, primeiro tema do The Piper fulcral para qualquer fan dos primeiros anos dos Floyd, onde se espalha o fascínio gerado sobre a exploração espacial, uma trip espacial que Syd deixou para a gente.
De seguida, Careful With That Axe, Eugene, o MEU tema, um enrolar hipnótico do teclado de Wright, o ritmo fixo e aparentemente inconsequente da bateria e baixo até ao gincho de Roger Waters dá, projectando-se o piano Hammod e a Stratocaster de David Gilmour que avivam a alma da obra. GANDA MALHA. Este tema aparece, mas com o nome de Come in Number 51, Your Time Is Up, na banda sonora de Zabriskie Point de Antonioni.
Set The Controls for the Heart of The Sun, imagine-se no deserto em busca de algo, sobre o tórrido sol e abafado calor, apesar da farta vestimenta que o mantém relativamente fresco, isto às 14:30 a 150 kilometros de Alexandria e com o sacana do camelo a cheirar a…ai…como se diz…não vem nada simpático para designar o odor do dromedário … a cocó pronto! Uma neblina de mistério, um local longínquo, possivelmente desinteressante mas como ainda não se lá chegou o ânimo é grande e o que interessa é a viagem, este são os sentimentos que me percorrem o corpo ao ouvir o que descrevo.
Já quanto a A Saucerful Of Secrets, este é neurótico, desconcertante talvez para alguns, para mim é mais um exemplo de desconstrução e reconstrução melódica muito bem coordenada, uma instrumental fascinante, mas não para ouvir em viagem.
Todos os temas perfazem 39:31 minutos, deixando um cozinhado admirável, que por mais fascinante que seja não é o melhor exemplo do período destes temas ao vivo, para isso é comprar o DVD dos Pink Floyd ao vivo em Pompeia, esse sim imperdível para qualquer auto-proclamada fan.
Já no estúdio, temos uma construção diferente, quatro músicos, cada um com um conjunto de músicas de autoria própria. O primeiro no pack é Richard Wright com as quatro partes de Sysyphus, a primeira das quais assemelha-se a um tema de algum antagonista/arqui-vilão num filme com extra-terrestres do anos 50/60, ideal para entradas fantásticas em festas e no trabalho de manhã para intimidar os colegas.
As duas partes seguintes são aborrecidas, devaneios musicais com qualidade, notas um pouco perdidas entre outras secções menos desafiantes para o ouvinte comum, e possivelmente causador de desinteresse. A última serve para fechar a apresentação, deixando-se apenas uma reminiscência da primeira parte.
PLEASE, NEXT!!! (grita eufórico o encenador na sua gestão de “talentos” pré-ensaios): David Gilmour. A mais regular performance, nunca muda o buraco do cinto, as calças não lhe caem, escorrem as notas pela guitarra clássica, pela eléctrica, escorrem sem parar “and it feels good”. Além do mais parece que todos os instrumentos da música foram tocados pelo próprio Dave. MUST LISTEN TO The Narrow Way Part 3.
TÉRMINO, NICK MASON, Baterista. The Grand Vizier's Garden Party, primeiro a flauta para começar, depois uma série de sons que nos fazem lembrar um sujeito bêbado que nem um cacho a tentar enfiar a chave na fechadura, sem acordar a esposa, enquanto se tenta manter de pé e não vomitar em cima do cão, antes de colapsar-se inconsciente no tapete da entrada da casa da vizinha. Vem depois um cortejo fúnebre (?), um mistério que se adensa, ou será o vinil estragado, parece que está a saltar agulha. E por fim solos de bateria, enfim fatigante.
Já quanto ao art work do álbum, a capa do LP tem coisas muitas nices, primeiro que tudo, a presença do LP de Gigi peça musical da década anterior, segundo a presença de cada um dos quatro músicos em posses diferentes, sendo replicada numa espécie de espelho na parte de cima lado esquerdo a mesma imagem mas com os músicos a alternarem de posição, contendo este mesma imagem outro “espelho” onde o efeito se volta a repetir-se, dando-se asso a outro espelho e quarta repetição. NICE. Já a contracapa tem a gear dos Floyd disposta numa maneira que me faz lembrar carro futurista, que ainda é futurista (desculpem a falta de imaginação mas é a fome, vejam por vocês mesmos).
É calão, não quer ler, então comece por aqui a leitura
UMMAGUMA dois álbuns; ao vivo (1) e em estúdio (2)
(1) 3/5 É um bom começo para ouvir Floyd ao vivo, mas nada bate Ao vivo em Pompeia.
(2) 2/5 Não é para todos os ouvidos, tem momentos desconexos, frustrantes, exóticos e curiosos. Não goza de fluidez, é uma obra individual colada para ser colectiva, e sofre de todos os males que advém desta descrição.
Além do mais, esta abordagem artística, esta busca de identidade, este relacionada com o contexto acima descrito, ou seja, a orfandade da banda em 1969.
Té lá VIVA AO BACALHAU
P.S. E apenas um pequeno tributo que nunca fiz, mas que devia ter feito, a Richard Wright, a base musical/demo/ideia primordial do meu tema nº 1 dos Floyd, Us and Them, The Piano Sequence tema rejeitado de Zabriskie Point.
A música vive para sempre, enquanto existirem pessoas ^_^
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