domingo, 19 de junho de 2011

António de Saldanha

António de Saldanha nasceu depois do ano de 1570[1], no ceio de uma família nobre “muito influente da época”[2], os Saldanha de Albuquerque[3], não se sabendo em que localidade.
António de Saldanha era filho morgado de D. Joana de Albuquerque e de Aires de Saldanha[4], homem que viveu grande parte da sua vida na Índia, ocupando os cargos de capitão-mor no Mar Vermelho, de capitão de Sofala e de Vice-rei, entre 1600 e 1605[5]. Além desta espantosa carreira no Oriente, Aires de Saldanha foi capitão de Tânger, entre 1591 e 1599[6], sendo que, a 17 de Outubro de 1592, o nosso autor, que se encontrava nesta praça portuguesa do norte de África, como fronteiro, é feito prisioneiro numa entrada na terra dos mouros[7].

O cativeiro de António de Saldanha foi prolongado, durou até 1606[8], e durante este período houve várias tentativas de resgate pelo seu pai, que chegou a reunir, várias vezes, a quantia monetária requerida, sem que dai surtisse algum efeito[9].
Durante em período de catorze anos, este nobre viveu em Marraquexe, a capital política do Sultão de Marrocos[10]. Devido ao seu estatuto social, o nosso autor foi tratado com grandes privilégios, como: a possibilidade de receber de forma regular correio, a total liberdade de movimentos dentro de Marraquexe, a posse de criados, e a possibilidade de pedido e concessão de empréstimos[11].
À volta de António de Saldanha orbitavam muitos cativos de origem portuguesa, que tinham altos cargos na administração e no exército do sultão[12]. A interacção destes com este nobre devia-se à partilha da “nostalgia da pátria”, do sentimento de “fidelidade às origens”, do “desejo de regressar a Portugal”, e como modo de obter testemunhas da falsa conversão ao Islão, úteis, mais tarde, durante os processos da Inquisição[13].
Só com a intervenção de Anthony Sherley, aventureiro inglês ao serviço dos espanhóis, é que o nosso autor é resgatado de um país que estava lançado no caos administrativo, depois da morte do Sultão em 1603.

Após a sua chegada a Portugal, António de Saldanha casou com D. Joana da Silva, tendo com ela três filhos e uma filha[14], e foi viver para o morgadio instituído pelos seus pais, no solar da Junqueira[15]. Em 1607 tornou-se comendador de São Salvador de Sarrazes na Ordem de Cristo, e ocupou os cargos de Alcaide-Mor de Vila Real e de Capitão-Mor da Naus da índia, em 1633[16].

Mas a sua história não acaba aqui. António de Saldanha foi ainda um “destacado conjurado da Revolução de 1640”[17], isto apesar de ter mais de sessenta anos nessa data[18]. Da preparação da revolta ao acto em si, parece que o nosso autor foi bastante activo. Participou na aclamação do rei[19], escoltou membros do governo espanhol deposto ao castelo de São Jorge[20], prendeu conspiradores de um contra-golpe castelhano[21], foi, enquanto general da Armada, encarregado de subjugar a resistência espanhola na ilha Terceira[22], foi governador da Torre de Belém[23] e participou no Conselho de Guerra de D. João IV[24].
António de Saldanha morre no ano de 1656, antes do dia 20 de Março[25].


[1] Não se sabe a data exacta, tem-se apenas esta referência pois o seu pai regressa, da Índia, a Portugal para se casar nesse ano, isto segundo “Saldanha (Aires)”, in Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Vol. XXVI Rodri - Sanch, Lisboa/ Rio de Janeiro, Editorial Enciclopédia, [s.d.], pp.696.
[2] Cf. António Dias Farinha, “Introdução”, in António de Saldanha, Crónica de Almançor, Sultão de Marrocos (1578-1603), estudo crítico, introdução e notas por António Dias Farinha, trad. francesa por Léon Bourdon , Lisboa, Instituto de Investigação Cientifica Tropical, 1997, p.XXVII. Além de influentes, os seus pais são um bom exemplo da obtenção de enormes riquezas no ultramar, que consequentemente foram usadas para a constituição de um morgadio em 1600.
[3] Cf. Joaquim Romero Magalhães, “A sociedade”, in História de Portugal, Direcção de José Mattoso, Coordenação de Volume por Joaquim Romero Magalhães, Vol. III, [Lisboa], Circulo de Leitores, 1993, p.489.
[4] Cf. António Dias Farinha, “Introdução”, ob. cit., p.XXXIII.
[5] Cf. “Saldanha (Aires)”, in Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Vol. XXVI Rodri - Sanch, Lisboa/ Rio de Janeiro, Editorial Enciclopédia, [s.d.], pp.696.
[6] Cf. António Dias Farinha, “Notas ao Texto da Crónica de Almançor ”, in António de Saldanha, Crónica de Almançor, Sultão de Marrocos (1578-1603), estudo crítico, introdução e notas por António Dias Farinha, trad. francesa por Léon Bourdon , Lisboa, Instituto de Investigação Cientifica Tropical, 1997, p.505.
[7] Cf. idem, ibidem, p.505.
[8] Por este motivo aparece nos registos dos Nobiliárquicos com o epíteto de “O Cativo”.
[9] Cf. António Dias Farinha, “Introdução”, ob.cit., pp.XXI. A recusa na entrega deste fidalgo é explicável pelo reconhecimento, por parte do Sultão, do seu alto valor na resolução de possíveis problemas nas relações com a monarquia dual ibérica.
[10] De seu nome Mawlây Ahmad al-Mansûr, vulgarmente chamado de Almançor, é conhecido como um importante obreiro do período áureo de Marrocos no fim do século XVI.
[11] Cf. idem, ibidem, pp.XII-XIII.
[12] Cf. idem, ibidem, p.XIII. Os chamados elches, que na sua maioria tinham aderido ao Islão pelo melhor tratamento que dai advinha.
[13] Cf. idem, ibidem, p.XXVII e XXIX.
[14] Aires de Saldanha, Bernardo de Saldanha, João de Saldanha e D. Margarida de Vilhena. Antes de casar tivera um filho natural, que depois de legitimado usou o nome de António de Saldanha.
[15] Cf. idem, ibidem, p.XXXIII.
[16] Cf. Manuel Freire Themudo Barata, Travessa dos Conjurados, Disponível em http://www.ship.pt/
pdf/travessa.pdf, [Ficheiro capturado a 15/03/2007].
[17] Cf. António Dias Farinha, “Introdução”, ob. cit., p.XIII.
[18] Cf. idem, ibidem, p.XXII.
[19] Cf. Luís de Meneses; 3º Conde da Ericeira, História de Portugal Restaurado, nova edição anotada e prefaciada por António Álvaro Dória, Vol. I, Porto, Livraria Civilização, 1945, p.528. O seu filho, Aires de Saldanha, também participou nesta aclamação e foi membro activo do movimento de restauração, falecendo em combate na Batalha do Montijo em 1644.
[20] Cf. Leonor Freire Costa e Mafalda Soares da Cunha, D. João IV, Lisboa, Circulo dos Leitores, 2006, p.31.
[21] Cf. idem, ibidem, p.115.
[22] Cf. “Saldanha (António) ”, in Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Vol. XXVI Rodri - Sanch, Lisboa/ Rio de Janeiro, Editorial Enciclopédia, [s.d.], pp.697.
[23] Cf. Manuel Freire Themudo Barata, ob.cit..
[24] Cf. Leonor Freire Costa e (…), ob.cit., p.148.
[25] Cf. António Dias Farinha, “Introdução”, ob. cit., p.XXXIX.

Sem comentários:

Enviar um comentário