quarta-feira, 15 de junho de 2011

Almançor - O Contexto Sócio-Político de Marrocos antes de 1578


O momento da ascensão do Sultão Mawlây Ahmad al-Mansûr[1] é precedido de um período atribulado na história de Marrocos, na qual há grande intervenção das potências estrangeiras, europeias e otomana.
A presença europeia no Norte de África, a nível de ocupação territorial, inicia-se com a conquista de Ceuta, por Portugal, no ano de 1415. Desde esta data até o ano de 1769 Portugal terá praças forte no território, fortificações na costa, como foram os casos de Ceuta (1415-1640), Alcácer Ceguer (1458-1459), Tanger (1467-1670), Arzila (1471-1550 e 1577 -1579), Azamor (1513-1541), Mazagão (1514-1769), Safim (1508-1541), Aguz (1508?-1525?), Castelo Real/ Mogador (1501-1541) e Santa Cruz do Cabo Guer/ Agadir (1505-1541).[2]

Este exemplo de presença estrangeira no Magreb era apenas aceitável num quadro de descentralização de poder político em Marrocos, com sultões que possuíam apenas poder local ou regional, que se prolongará até o domínio do território por uma dinastia forte, os Sádidas, no século XVI, que fará o que as dinastias anteriores, como a dos Oatácidas, não conseguiram, dar luta ao infiel invasor e expulsa-lo.
Perante este novo espírito[3] os territórios ocupados pelos europeus iriam ser submetidos a constantes ataques e progressivamente as praças cairiam na mão das populações locais, tanto por conquista[4] como por abandono.[5]

As lutas internas no país não pararam mesmo com o domínio da nova dinastia, pois a morte de um sultão gerava lutas entre familiares, filhos e tios, para a ascensão ao poder. Exemplo disso é a seguinte sucessão de acontecimentos: pouco depois de ascender ao título de Sultão de Marrocos Mawley Muhammed Shaykh é morto por um oficial ligado aos otomanos[6], sendo que quem lhe sucede é o seu filho Mawlay Abd allah al-Galib, facto que leva à fuga de dois dos seus irmãos, futuros sultões depois da sua morte, para o exército do Império Otomano.[7]

Estes dois irmãos, Mawley Abd al-Malik primero e Mawlây Ahmad al-Mansûr depois, iram usurpar o poder ao seu sobrinho, Mawley Muhammad.
Com situações destas e revoltas dos xerifes das cidades perante o poder local não é de surpreender que existisse um exército quase em permanência na mão destes líderes político-militares.[8]


[1] al-Mansûr (que nos é transcrito no texto em análise como Almançor) significa “O Vitorioso” em árabe, e advém do resultado favorável da batalha de Alcácer Quibir para este monarca. Além deste epíteto, o sultão também era designado de al-Dhahabi, ou seja, “O Dourado”, que é resultado do domínio sobre o ouro dos reinos do Gao e de Tomabuctu, na zona do Níger.
[2]Cf. Maria Augusta Lima Cruz, “Marrocos”, in Dicionário dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa. Direcção de Luís de Albuquerque, Coordenação de Francisco Contente Domingos, Vol. II, [Lisboa], Círculo de Leitores, 1994, p.694.
[3] De guerra santa, de Jihad, promovido pelas confrarias, zaouia e pela dinastia Sádida, que afirmava descender de Maomé.
[4] Caso de Mawley Muhammed Shaykh, que usado artilharia inglesa, tomou Santa Cruz do Cabo Guer.
[5] Casos de Safim e Azamor, em sequência da perda de Santa Cruz.
[6] Cf. Muḥammad El Fasi, “Le Maroc”, in Histoire Générale de L´Afrique. Directeur de Volume B.A Ogot, Vol. V – L´Afrique du XVIe au XVIIIe siècle, Paris, Éditions Unesco, 1999, pp.254.
[7] Vide. Abdallah Laruoi, Historia del Magreb, Desde los Origénes Hasta el Despertar Magrebí, Madrid, Editorial Mapfre, 1994, p.243.
[8]Cf. António de Saldanha, Crónica de Almançor, Sultão de Marrocos (1578-1603), estudo crítico, introdução e notas por António Dias Farinha, trad. francesa por Léon Bourdon , Lisboa, Instituto de Investigação Cientifica Tropical, 1997, p.XLV.

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