quinta-feira, 16 de junho de 2011

Almançor - Sultanato (1578 - 1603)


Em sequência de acontecimentos atrás descrita passa-se para um dos momentos mais marcantes das histórias de Portugal e de Marrocos, a batalha de Alcácer Quibir.
Nela definiu-se o fim das campanhas expansionistas portuguesas no Magreb[1], pôs-se em causa a independência portuguesa face à coroa castelhana, e iniciou-se o reinado do Almançor cheio de prestígio.

O embate entre as duas forças dá-se em Alcácer Quibir, a 4 de Agosto de 1578 entre o exército português comandado por D. Sebastião, com o apoio das forças leais ao monarca destronado, Mawley Muhammad, contra as tropas do sultão Mawley Abd al-Malik, apoiadas pelo já referido irmão, Almançor, o califa de Fés.[2]
Ou seja, o monarca português apoia um rei desapossado com o intento de recuperar o poder português no Norte de África, através da vitória na batalha e consequentes ganhos pelo apoio dado a Mawley Muhammad.

Independentemente do que se possa afirmar sobre a preparação, a chegada ao campo de batalha e a acção na batalha o que importa no fim é o seu resultado, e neste caso a vitória recai sobre o Almançor e o seu irmão[3], sendo que este, D. Sebastião e o seu aliado marroquino faleceram no meio da batalha.[4]

Em sequência desta vitória Mawlây Ahmad ficou a ser conhecido como Almançor, obtendo muito prestígio, sendo mesmo vista na Europa como uma vitória dos muçulmanos[5], e conseguido também elevadas somas de monetárias do resgate dos nobres portugueses aprisionados na batalha dos Três Reis.[6]
Além destes aspectos, Almançor obteve também com os despojos de guerra um reforço militar com o material bélico adquirido, que terá sido suficiente para a sua campanha sobre o Songhay[7], conjuntamente com o dinheiro dos resgates a ser usado para pagar o soldo dos soldados.
Mas antes de nos centrarmos sobre aspectos militares é importante compreender que neste reinado se alcançou um grande desenvolvimento económico, no comércio[8], feito essencialmente pelos europeus, na produção açucareira na zona de Suz, conseguindo-se uma administração política eficaz do poder central, embelezando-se a capital, Marraquexe, com a construção do palácio de Al Badi[9], e incentivando-se os movimentos artísticos, poéticos e literários.

Para que tudo isto pudesse ocorrer foi necessário que o sultão efectua-se no tabuleiro político internacional da diplomacia as jogadas com as pedras certas, ou seja, pratica-se uma política de duplicidade, na qual se comprometia a várias forças externas, que podiam ameaçar a independência de Marrocos[10], o cumprimento de acordos, que por exemplo, chegaram a envolver a cedência de portos, fulcrais para o comércio dos europeus.
A procura de maiores quantidades de ouro por parte do Almançor, para estímulo da economia marroquina[11], o controlo da fonte de ouro e de sal da região e a divulgação do islamismo, levam à campanha de 1591 sobre o Songhay.
A campanha foi bem preparada e a vantagem que advinha da posse de armas de fogo foi importante para a vitória na batalha de Tondibi, um momento de mudança na história do Sudão ocidental[12], pois com esta batalha destruiu-se o império do Songhay, resultado deste o aparecimento de vários estados de pequenas dimensões independentes.


[1] Vide. Francisco Contente Domingues, “A Guerra em Marrocos”, in Nova História Militar de Portugal. Direcção de Manuel Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira, Vol. II, [Lisboa], Circulo de Leitores, 2004, p.230.
[2] Cf. António Dias Farinha, “O Declínio da Política Africana; de Alcácer Quibir ao Abandono de Mazagão”, in Portugal no Mundo, Direcção de Luís de Albuquerque, Vol. I, Lisboa, Publicações Alfa, 1993, p.135.
[3] Que se julga que estaria a sofrer os efeitos de envenenamento ou de doença durante a batalha.
[4] Cf. Joaquim Romero Magalhães, “Rei pela Graça de Deus”, in História de Portugal, Direcção de José Mattoso, Coordenação de Volume por Joaquim Romero Magalhães, Vol. III, [Lisboa], Circulo de Leitores, 1993, p.546.
[5] Muḥammad El Fasi, “Le Maroc”, ob. cit, p. 262.
[6] O Cardeal rei D. Henrique pagou quatrocentos mil cruzados para o resgate de 80 fidalgos.
A Batalha aqui referida é a de Alcácer Quibir, também conhecida para os historiadores árabes com o nome de Batalha de Wadi al-Majazin.
[7] Vide. Abdallah Laruoi, ob. cit, p.247.
[8] Praticado a troca de sal-gema, peles e ouro por tecidos e armas com os ingleses e holandeses.
[9] Cf. António de Saldanha, ob. cit, pp.LXXXV-LXXXIX.
[10] Cf. idem, ibidem, p.XCII do capitulo introdutório.
[11]Lansiné Kaba “Archers, Musketeers, and Mosquitoes: the Moroccan Invasion of the Sudan and the Songhay Resistance (1591-1612)”, in Journal of African History, nº 22, 1981, pp.458-489.
[12] Cf. idem, ibidem, p.457.

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