A Sucessão Inglesa
João Sem Terra, o filho mais novo de Henrique II, senhor de todas as posses plantagenetas em França, exceptuando a Bretanha e a Aquitânia, é, então, regente de Inglaterra. Nestas circunstâncias, em 1193 João faz uma coligação com o rei francês, tornando-se seu vassalo, pretendendo o apoio de Filipe na luta pelo trono inglês.
No regresso a Inglaterra, Ricardo I é preso por Leopoldo da Áustria e entregue ao senhor deste, o Imperador Henrique VI, que o solta depois do pagamento de resgate, por Leonor da Aquitânia, e da homenagem vassálica do prisioneiro prestada ao Imperador.
O regresso de Ricardo aos seus domínios, provoca um conflito entre o legítimo monarca inglês e João, que é aproveitado por Filipe II para atacar os territórios continentais ingleses. O consequente acordo, de 1194, firmado entre João Sem Terra e Filipe II permitiu a anexação do leste da Normandia (com a excepção de Rouen), Vaudreuil, Verneuil e Evreaux ao rei de França.
O conflito entre os dois reinos continuou, sempre com os triunfos militares de Ricardo I. Durante esta disputa o papa Inocêncio III pressionou uma negociação entre as duas facções, para que a paz na cristandade permitisse uma união forte para reconquistar o Santo Sepulcro. Esta situação seria solucionada com a inesperada morte de Ricardo I em 1199.
Perante uma difícil sucessão ao trono inglês, na qual se digladiavam João Sem Terra e Artur I da Bretanha, filho de Godofredo II da Bretanha, Filipe Augusto aproveita a conjectura para apoiar Artur contra João, recebendo a vassalagem do primeiro na Primavera de 1199[1]. Com o tratado de Goulet, de Maio de 1200, João I aceita ser vassalo do reino de França, acordando-se o casamento do príncipe Luís com Branca de Castela, sobrinha de João.
Quando teve oportunidade, Filipe decide confiscar os feudos de João, apresentnado como argumento o casamento do rei inglês com Isabel de Angoulême, que estaria à partida destinada a Hugo de Lusignan. A recusa de João em comparecer à convocação da corte francesa determinou o rumo dos acontecimentos. Violava-se assim o dever de suserania.
Na Primavera de 1202, Filipe II e Artur da Bretanha atacam coordenadamente as possessões de João. Apesar da morte de Artur, no início de 1203, Filipe consegue o auxílio dos vassalos deste e obtêm a conquista total da Normandia, de Poitiers, de Loches e de Chinon. Esta campanha bélica termina com as tréguas de Thouars em 1206.
Questões Matrimoniais
Durante todos estes conflitos, Filipe consegue casar duas vezes. Primeiro, em 1193, com Ingeborg da Dinamarca, irmã do rei Canuto VI, recebendo um dote de 10 000 marcos de prata. Depois da princesa dinamarquesa ter sido enviada para o mosteiro de Saint-Maur-des-Fossés, Filipe II anunciou as suas intenções de anular o matrimónio, alegando uma ligação de parentesco proibida pela Igreja, sendo que na realidade o seu acto resultava da não obtenção dos direitos dos reis dinamarqueses ao trono de Inglaterra. Com o apoio dado por bispos e nobres, Filipe casou com Inês de Méran em 1196 da qual obteve um segundo filho, Filipe Hurepel.
O papa Inocêncio III não concordou com as práticas matrimoniais do rei francês e acabou por, perante a recusa deste em aceitar Ingeborg de volta, lançar um interdicto sobre o reino da França no ano de 1200. A reconciliação entre Filipe e Ingeborg ocorre poucos meses depois e o interdicto é levantando, seguindo-se até 1212 várias tentativas de anulação do matrimónio.
Conflitos Com Outros Vassalos
Quanto aos conflitos com os seus outros vassalos, os anos compreendidos entre 1206 e 1212 foram para Filipe II um período de consolidação das suas conquistas territoriais, subsistindo tensões na Flandres e em Bolonha.
Na Flandres o problema é sucessório, Balduíno IX, Conde da Flandres e de Hainaut, tornou-se Imperador Latino de Constantinopla. Para estabilizar estes condados, o rei casou a única herdeira de Balduíno, Joana de Constantinopla, com Fernando de Portugal.
No condado de Bolonha, a procura de estabilidade pelo poder régio leva ao casamento de Filipe Hurepel com a filha do Conde local, Reinaldo de Dammartin[2].
[1] Guilherme de Roches, Senescal de Anjou e Leonor da Aquitânia também apoiaram Artur I.
[2] Devido a aliança deste senhor com a facção inglesa o rei francês é obrigado a agir belicamente, tomando Mortain, Aumale e Dammartin.
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