Depois de uma considerável espera, decidi colocar aqui o que prometi (por favor ide a abaixo e carregai no video do YouTube para que podeis apreciar um divino tema)
As imagens que "postei" na última quarta ou quinta-feira são retratos fúnebres romanos, pintados sobre tábuas de madeira, colocadas na zona da cabeça da múmia. Sim, se digo romanos, refiro-me ao período pós-Cleópatra (a de Júlio César e Marco António), a este território como propriedade imperial, e a combinação da tradição local da mumificação com esta representação pictórica.
Antes de mais, a mumificação não é para todos, ter se condição social e monetária é um imperativo, para este e para todas as eras (os retratos abrangem o século II e IV d.C.); segundo, podiamos pensar que o talento mumificador deste período seria péssimo, mas os corpos só começavam a ser tratados quando já se encontravam em avançado estado de decomposição, facto explicável pelas prioridades culturais face à morte (uma boa e realista representação do defunto antes de mais, acompanhado uma múmia bem "petrechada", luxuosamente decorada e enfaixada); terceiro, a pintura é feita de dois modos, uso de tempera, água e aglutinante, e Encáustico, cores diluídas em cera fundida, aplicadas a quente ou a frio; quarto, nas celebrações fúnebres, o retrato era levando em procissão pelas ruas da cidade e mais tarde colocado na múmia, quando tal ocorria esta era incluída no banquete funerário; quinto, as múmias era colocadas em casa até se encontrar outro "lar", um túmulo individual (na fase tardia deste fenómeno observamos a inclusão de elementos cristãos nas representações que acompanhavam a múmia no seu túmulo, sendo que muitos destes espaços catacumbas colectivas); sexto, a representação do defunto pretende ser o mais realista possível aquando da data da sua morte (e são-o como comprovou a antropologia forence), dominado claramente as fisionomias mediterrânicas; e sétima e última, resta-nos destas pessoas pouco mais do que o nome a profissão, mas pela sua representação (estilo de cabelo, roupa, jóias) podemos determinar em que período especifico viveu o sujeito (o Mediterrâneo é fantástico não é? Permite que todos seguissem toda a "ditadura" da moda dominante de Roma).
É sempre este aspecto que me deixa mais contido, a memória, não colectiva mas individual .... Um sujeito nasce, cresce, casa, tem filhos, tem bens, tem netos, vai a guerra, morre e a única porra que eu sei dele é o nome, um misero nome, nada mais, deixado num pergaminho, na parte do fim, referente a um escambo ou venda de um bem imóvel, apenas a assinatura de uma testemunha. Ele não fez nada de registo para a história, diram alguns, não ganhou batalhas, não foi fidalgo nem rei, mas existiu, foi alguém, CHOROU, GRITOU, AMOU, ERROU, CANTOU, DANÇOU (de certeza melhor que eu), BORROU-SE, em suma viveu, mas é como não o tivesse feito por não se saber nada dele. A verdade é que a história não deve, não pode ser centrada num homem, numa elite, a história não é também só das massas oprimidas e não indentificáveis, a história é tudo, é global e universal.
No More "Who controls the past now, controls the future, who controls the present now, controls the past".
Segue-se mais imagens e a dita soundtrack para o post
A profundidade daquele olhar, ao contrario do que possam pensar não é vazio, nós é que o ainda não podemos compreender, só quando passarmos a barreira que eles já cruzaram é que saberemos o que aqueles olhos viram e sabem ... até lá espero que demore muito tempo para todos que lê este blog (se é que alguém o faz :P)
Pink Floyd - Live at Pompeii [1972]
Echoes, Part II
Fontes: Apresentação em Pdf de Rogério Ferreira de Sousa, Os Retratos do Faium: Uma Evocação Tardia do Antigo Egipto, II Curso Livre de Egiptologia, sessão de 11/12/2008.
Sem comentários:
Enviar um comentário