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Autor: Ricardo Barradas
Com o Rei
Como ficou patente na breve resenha histórica anteriormente
apresentada, a Ordem de Santiago desde da sua chegada a
Portugal estabeleceu uma forte ligação à monarquia. A Ordem crescerá muito à
base das doações régias, transformando-se numa poderosa entidade senhorial que
progressivamente se submeteu ao domínio do rei. Neste longo processo, que teve
progressos intercalados de momentos mais letárgicos, ocorreram alguns atritos
dos quais escolhemos três exemplos.
O primeiro caso que nos propomos analisar decorre
durante o reinado do Rei Lavrador. Após a primeira tentativa deste monarca de “libertar” a Ordem de
Santiago do jugo de Uclés, os santiaguistas apresentaram algumas queixas ao
rei, que no seu esforço contínuo de centralização lhes tentava cercear
direitos. A primeira das quais é feita pelo Mestre de Santiago sediado em
Uclés, D. Pedro, aquando da sua estada em Portugal no ano de 1297, que acusa os
almoxarifes de Lisboa, e de outras áreas do reino, de desprezarem os
privilégios que D. Afonso III tinha dado aos espatários em Setúbal, Almada e
Adiça[1].
Ao qual D. Dinis ordenando o cumprimento da postura de seu pai[2].
Em seguida, em 1304, um outro Mestre santiaguista castelhano, D. João Osório,
chama a atenção para o desfavor dado aos pastos de animais em Campo de Ourique
pelos homens do rei, levando o soberano português a apelar aos seus montarazes
para que respeitassem os privilégios da Ordem[3].
Em 1308, perante outra queixa de D. João Osório, D. Dinis manda que os seus
oficiais, que arrecadavam a dizima das naves, navios e baixeis que navegavam
para fora do Sado, obedecessem ao acordo estipulado com a Ordem em 1279 sobre
este mesmo assunto[4].
Estas decisões favoráveis às queixas da Ordem
inserem-se na política de submissão do rei às decisões papais que negaram a
eleição de um mestre nacional. Uma mudança na postura de D. Dinis ocorre em
1314, com a segunda escolha de um mestre nacional para a Ordem. Num a documento
de 1315, o rei alegado a defesa do património fundiário da Ordem, que se encontrava
segundo ele a ser usurpado por comendadores e mestres a favor de terceiros[5],
intervêm julgando “por bem revogar
todollos préstimos e teenças que alguuns tinham do que a Hordem há nos meus
reinos que lhess forrem dados pellos meestres ou pellos comendadores ou pellos
seus procuradores sem outorgamento do cabido”[6].
Em suma, o monarca aguardou pelo momento certo para prosseguir a nacionalização
da Ordem de Santiago, não criando conflitos desnecessários, e justificando a
sua interferência directa na administração desta com o seu zelo na preservação
dos bens santiaguistas.
[1] Cf. Mário Raul de Sousa Cunha, “A Quebra da Unidade Santiaguista e o
Mestrado de D. João Osório”, in As Ordens
Militares em Portugal e no Sul da Europa, Coordenação de Isabel Cristina
Ferreira Fernandes e Paulo Pacheco Lisboa, Edições Colibri, 1997, p.396.
[2] Cf. Idem, ibidem, p.396.
[3] Cf. Idem, ibidem, p.402.
[4] Cf. Idem, ibidem, p.403. Se
o leitor estiver interessado no diploma que é referido nesta decisão régia,
poderá consultá-lo em: “Livro dos Copos - Vol. I”, in Militarium Ordinum Analecta, Nº 7, Coordenação Paula Pinto
Costa, Porto, Fundação Engenheiro António de Almeida, 2006, doc.140,
pp.267-269.
[5] O rei acreditava que “hûa das
cousas por que era minguado como quer que o fosse per muitas maoos que ataa
aquy hy houve que o era ssinadamente per muitos prestimose teenças e doaçcooens
que os meestres davam sem cabidos que nom era proveito da Ordem” (“Livro
dos Copos - Vol. I”, doc. 73,p.177.)
[6] Cf. “Livro dos Copos - Vol. I”, ob.cit.,
doc.73, p.178.
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