Para compreender a U.D.I (Unilateral Declaration of Independence ) da Rodésia é necessário contextualiza-la com os acontecimentos decorrentes nesse período no continente africano e no próprio país.
Após o final da Segunda Guerra Mundial, o equilíbrio de forças no mundo alterou-se. Começou a era das super-potências, os E.U.A e a U.R.S.S, com a China a rivalizar mais tarde com estes dois. As potências coloniais europeias já não possuíam a mesma capacidade de gestão dos seus territórios além-mar, iniciando-se, assim, um movimento de descolonização nos territórios sob o jugo europeu no chamado Terceiro Mundo.
O fortalecimento deste movimento passa necessariamente pelo apoio num conjunto de ideias, que aparecem mesmo antes do fim da Segunda Guerra Mundial, como é o caso do “direito à auto-determinação” dos povos, que figura na Carta do Atlântico . “Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao princípio de igualdade de direitos e de autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas apropriadas ao fortalecimento da paz universal” , estes são os objectivos da ONU, que estão estipulados no segundo artigo do primeiro capítulo da sua Carta, em 1945, evidenciando claramente a mudança de paradigma dominante no mundo. Passou-se de uma concepção eurocêntrica, de imperialismo cultural, onde há uma obrigação moral por parte dos europeus de transformarem outros povos, ainda selvagens, em civilizados , para uma noção baseada no direito das populações autóctones de afirmarem perante todas os outros estados a sua capacidade de se auto-governarem. Esta mudança de paradigma teve repercussões nos próprios africanos através dos seus estudantes, que com o acesso ao ensino europeu, desenvolveram concepções que exaltavam os valores, interesses e diferenças nacionais entre as várias regiões, criando depois movimentos nacionalistas que obtiveram apoio internacional .
Organizaram-se então conferências dos estados não alinhados , que serviram para difundir as ideias a favor da descolonização e para que se organiza-se a sua luta através da elaboração de directrizes comuns. Entre estas reuniões contam-se a Conferencia de Bandung, a Conferência Acra e a Conferência Abis Abeda. Na primeira das quais foi emitida uma declaração, feita pelos vários países participantes, onde se destaca o apoio à “causa da liberdade e independência dos povos submetidos ao jugo estrangeiro”.
Dentro deste contexto é elaborada a Resolução 1541 das Nações Unidas , na qual se expressa o princípio do direito dos territórios sob colonização ou sob tutela à sua autodeterminação, e é, também, criada a Organização de Unidade Africana, com o propósito de promover a unidade e solidariedade dos estados africanos e eliminar todas as formas de colonização em África .
Com a divulgação destas ideias à população geral, começa a luta pela independência dos vários estados africanos. Esta contenda assumiu formas variadas em contextos diferentes, ido desde pacíficas negociações com os colonizadores, passando pela desobediência civil, pelo recurso a actos de sabotagem e, por fim, pelo conflito armado.
A descolonização de África realizou-se num processo gradual, havendo um elevado número de independências entre os anos de 1958 e 1960 . Num elevado número de casos a passagem de poder foi calma, com os partidos nacionalistas negros a ocuparam os cargos administrativos anteriormente pertencentes aos colonos . Neste tipo de transição o caso inglês destaca-se pelo recurso a uma politica de concessões progressiva, controlado assim o processo, facto que visava perder colónias ganhando membros para a Commonwealth. Houve, claro, situações mais complexas em que se teve de recorrer à luta armada e a guerras pela independência, casos da actual Republica Democrática do Congo, a Argélia, o Zimbabwe, Angola, Moçambique e Guiné-Bissau .
Tendo noção deste surto independentista em África, é agora necessário passar a análise para uma conjuntura regional que afectou profundamente a antiga colónia da Rodésia do Sul.
Entre 1953 e 1963 o território em análise era uma colónia inglesa, que se encontrava ligada a outras duas colónias britânicas, a Rodésia do Norte e a Niassalândia, na Federação das Rodésias e da Niassalândia, também conhecida como a Federação da África Central . O vasto e rico território federativo era gerido pela administração de cada colónia e por um órgão federal, no qual a Rodésia do Sul sempre teve grande influência , aproveitando esta posição para o seu desenvolvimento a nível dos transportes, das comunicações, de infra-estruturas várias, como o caso da barragem de Kariba, e para a aquisição de material bélico.
Durante o período da federação, a Rodésia do Sul foi administrada por um governo local, de origem europeia, com grande autonomia face a Londres, que protegia as práticas segregacionistas da sociedade colonial rodesiana . Com a retirada da França da Argélia em 1962, os problemas da revolta dos Mau Mau no Quénia, e a previsível independência das outras colónias pertencentes a federação, é eleito, na Rodésia do Sul, em 1962, um governo de direita, do partido da Frente Rodesiana Nacionalista, que se propôs a alcançar a independência “branca” , realizando-se varias negociações entre a colónia e a metrópole . Devido à política inglesa de não conceder independência a esta possessão antes que fosse garantido o acesso da maioria negra ao poder , Ian Smith, primeiro-ministro da colónia, optou por fazer uma série de actos que serviram para pressionar o governo inglês de Harold Wilson, tais como: a convocação da assembleia de 622 chefes tribais (chamada de Indaba) para obter apoio para a independência do território , e um referendo sobre a independência realizado em 1964 . Em ambos os casos obteve-se um sim retumbante. Continuando a haver relutância por parte de Londres, o governo de Ian Smith optou por declarar a sua independência unilateral .
No dia 11 de Novembro de 1965, às onze horas da noite, o governo trabalhista inglês ficou a conhecer a U.D.I rodesiana . Com este acto a Rodésia seria considerada uma colónia rebelde pelo estado inglês, não obtendo de nenhum país do mundo reconhecimento oficial , e sofrendo com o bloqueio internacional decretado pela O.N.U. . Finalmente em 1979 dá-se um passo em frente na reconciliação dos brancos e dos negros com a criação do Zimbabwe Rodésia e no ano seguinte com a independência, reconhecida internacionalmente e supervisionada pelos ingleses, do actual Zimbabwe.
- Tirei as notas de rodapé, estavam a atrapalhar o pobre, frágil e limitado blogger -
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